sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Coluna do Sambaquy - Regra Gaúcha x Regra Brasileira


Para inicio de conversa, a Liga Caxiense foi fundada dentro da Regra Gaúcha, pois o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, Lenine Macedo de Souza, num gesto pioneiro, foi a Caxias e fez uma demonstração da regra gaúcha, com a apresentação da mesa oficial, dos times fabricados por sua empresa, das bolinhas, etc. Essa demonstração foi realizada no Recreio Guarany e várias agremiações se fizeram presentes. Lenine colocou diversas mesas, vendeu inúmeros times e bolinhas.

Nessa ocasião apenas o Recreio Guarany jogava campeonatos, pois tinha em seu meio uma garotada maravilhosa, que adorava jogar botão. As demais agremiações e entidades apenas guardaram as mesas e os times, esperando a oportunidade de colocar tudo em ação. O primeiro campeonato organizado, em que participavam adultos, teve a primazia de ser realizado pelo Sindicato dos Bancários de Caxias, cujo presidente, o gremista Dauro Brandão de Mello, aficcionado pelo esporte, em maio de 1963, organizou e promoveu. Participavam bancários do Banco da Província, Banrisul, Sulbrasileiro, Nacional do Comércio e Banco do Brasil. Em abril de 1963 eu havia iniciado a minha carreira de bancário no Banco do Brasil.

Em junho de 1963, foi realizado o primeiro campeonato interno da AABB, com a participação de onze funcionários. E, em agosto do mesmo ano, realizamos o primeiro campeonato caxiense de futebol de mesa, reunindo os bancários, no salão do Sindicato. Por essa razão, no quadro de campeões caxienses, figura Marcos Lisboa como campeão de 1963, apesar da Liga ter sido fundada dois anos depois.

No ano de 1964 novamente os campeonatos foram realizados, na mesma sequência.

Porém, ao final de cada ano tomávamos conhecimento do campeonato estadual, e, não éramos convidados. Escrevi à Federação e fui informado que para disputar o campeonato estadual deveria haver na cidade uma entidade filiada a Federação que realizasse o campeonato oficial. Foi então que resolvemos fundar a Liga Caxiense de Futebol de Mesa , em julho de 1965. Em 13 de junho de 1965, recebemos as visitas do presidente da FRFM, Lenine Macedo de Souza, e dos botonistas Cláudio Saraiva e Renato Ramos, que nos orientaram sobre as providências necessárias. Ao final do ano, participávamos pela primeira vez de um estadual e Deodato Maggi trouxe o vice-campeonato, ficando o título com o botonista Paulo Borges.

A Federação Riograndense elegeu Gilberto Ghizi como presidente. O Ghizi aproximou-se da Liga Caxiense, notando desde cedo o nosso valor. Nesse ano promovemos o Torneio de 1º aniversário da Liga, e convidamos os botonistas de diversas cidades gaúchas. Convidamos também ao baiano Oldemar Seixas, com o qual mantínhamos correspondência. Para nossa surpresa Oldemar aceitou o convite e trouxe consigo Ademar Dias de Carvalho. Pediram os baianos que conseguíssemos para eles uma tábua de 2,20 x 1,60, lixas e sarrafos para as laterais. Queriam demonstrar o futebol de mesa que eles praticavam. O torneio de aniversário foi realizado na regra Gaúcha e foi emocionante até o final, pois Ademar Carvalho, com seus botões padronizados e bem maiores dos que os nossos chegou à final, perdendo por um lance infeliz, quando ao atrasar a bola ao goleiro, com o peso do botão, jogou goleiro e bolinha para dentro do gol. Ficou com o vice campeonato, sobrepujando ícones da regra gaúcha.

Após o encerramento e entrega dos troféus, os dois baianos fizeram uma demonstração do futebol praticado na boa terra. Não dá para descrever a admiração de que todos foram tomados. Ao ver dois times padronizados em campo (nós jogávamos com botões de diversas cores, bastava nos adaptarmos a eles, formando um time sem ter um padrão definido), com jogadas executadas com precisão, todos manifestaram-se admirados. Isso chamou a atenção do Ghizi, e, em conversas trocávamos idéias sobre uma regra que unisse a nossa com a deles. Com a grande vantagem de todo nordeste do país estar jogando a regra baiana. Quem sabe, assim, poderíamos ter um campeonato brasileiro da modalidade. No restante do ano fomos alimentando a idéia e juntando partes, até que o Ghizi conseguiu um ante projeto de uma regra que trazia muito da gaúcha e muito da baiana.

Ghizi solicitou que organizássemos o Campeonato Estadual de 1966 em Caxias do Sul. Aceitamos a incumbência e nos colocamos em campo no sentido de realizarmos um grande campeonato. Combinei com o Ghizi que seriam disputadas três categorias: adulto, juvenil e infantil. E assim foi feito. Conseguimos o alojamento no Seminário Diocesano (cujos seminaristas estavam em férias e sobraram camas para todos os disputantes do campeonato). Um restaurante em frente ao Colégio do Carmo fornecia a comida. Tudo pronto e o pessoal começa a chegar. Levamos todos ao Seminário e lá, com todos reunidos, Ghizi explanou a idéia da Regra Unida, que estávamos levando para a Bahia. Foi aprovada por unanimidade, pois era vontade de todos a realização de campeonatos nacionais.

Em janeiro, Ghizi sai de Porto Alegre e eu de Caxias do Sul e, de ônibus, vamos a Salvador. De 8 de janeiro até o dia 22, a maratona foi enorme. Várias noites, ficavamos discutindo as possibilidades de unificação, com vistas a criação da regra e realização de Campeonatos Brasileiros. Até que chegamos a um consenso e a Regra foi criada, com o nome de Brasileira. Dois dias depois estava impressa e pudemos trazer para o Rio Grande do Sul cadernos da mesma para que cada botonista a estudasse.

Caxias do Sul aderiu imediatamente à Regra, passando a modificar mesas e botões. Porto Alegre, entretanto, mostrou resistência. Havia o interesse comercial do Lenine, que ao saber que suas mesas não teriam mais saída, seus botões não seriam utilizados e a bolinha seria diferente, revoltou-se e destituiu o Ghizi da presidência da Federação. A seu favor estavam os grandes botonistas da época, os quais eram os papões de todos os títulos maiores.

Houve o rompimento de relações da Federação com a Liga Caxiense. Eramos personas não gratas. Ficamos alijados de suas disputas, mas seguimos a nossa ideologia e implantamos o futebol de mesa brasileiro em diversas cidades. Rio Grande, na pessoa de Clair Marques já estava unido conosco e surgia outro nome fabuloso que, transferido para Canguçú, levou o futebol de mesa para a região: Vicente Sacco Netto.

A intenção da criação dessa regra jamais foi de destruir a Regra Gaúcha (nossa regra mãe), mas propiciar a possibilidade de novos horizontes, coisa que realmente aconteceu a partir dos anos setenta, quando começaram a ser realizados os campeonatos brasileiros da modalidade.

Muita coisa foi dita contra tudo isso, mas, partimos daqui para a concretização desse sonho, com pessoa que detinha o mais alto posto da Federação Riograndense de Futebol de Mesa (que é a pioneira no Brasil e hoje, infelizmente, encontra-se adormecida). Não foi atitude de rebeldia, nem menosprezo. Muito pelo contrário, imaginávamos que traríamos alguma coisa nova que todos poderiam usufruir e, em visita a outros estados poder encontrar amigos botonistas e praticar a mesma modalidade. Infelizmente isso não aconteceu como desejávamos e muita mágoa foi fomentada durante anos. Eu acredito que hoje, pela amizade que existe entre os praticantes das duas regras, podemos encetar um movimento no sentido de regulamentar a regra gaúcha no CND e fazer com que, ao invés de três regras, tenhamos quatro reconhecidas. Mas, para isso, temos de nos dar as mãos e seguir em paz e harmonia, como verdadeiros praticantes do futebol de mesa que tanto amamos.

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