Ser Cruzeirista é estar preparado para lutar contra tudo e contra todos.
Os cruzeiristas sabem defender-se com fanatismo das gozações, do deboche e do desprezo.
O que alenta o Cruzeiro são os erros, as mágoas e às vezes as injustiças.
É o orgulho que movimenta o Cruzeiro pelos tortuosos caminhos do futebol.
Existe um ódio secreto, destilado em muitas décadas.
A diferença entre o Cruzeiro e os demais times pequenos é que estes não têm a ambição de tornar-se a terceira força do futebol gaúcho.
O Cruzeiro, por sua vez, tem uma suicida indiferença pela dupla Gre-Nal.
Nós não a tememos.
E se um dia tivemos time e fomos ricos, está é a imagem que reservamos.
É impossível ser tão fiel como um cruzeirista, sofrer tanto como um cruzeirista, vibrar tanto como um cruzeirista.
Nas vitórias do Cruzeiro não há carnaval. O que se houve são urros de vingança, gritos de guerra e hinos marciais.
Nosso objetivo a curto prazo é a vingança.
Não sabemos bem de quem nem para que.
Mas o inimigo é a dupla.
E a crônica, às vezes tão burra em relação à dupla, mas que sempre sabe ser inteligente e sarcástica quando o assunto é o Cruzeiro.
Sabemos que é mais fácil gozar do Cruzeiro. Claro que é mais fácil.
Mas tudo isso se juntou para formar o que se pode até chamar de “Santo Ódio”.
Um cruzeirista numa geral vale uma torcida.
É o mesmo empenho, a mesma fúria.
Na solidão, só nos restava torcer contra. E permanecemos fiéis. Sem jogar, sem E os que pensavam que o Cruzeiro não mais existia, cometeram um “ledo engano”.
Pelas esquinas da selva estava o Cruzeiro.
Disfarçado.
É uma ideologia que não morre. Porque as idéias sobrevivem aos juízes, aos subornos, aos estádios de pedra, às manchetes e aos pavões.
Por tudo isto é que o Cruzeiro está de volta, conclamando a velha e a nova guarda para mostrar a todos a força do Cruzeiro, que sempre existiu, existe e existirá sempre, enquanto houver um cruzeirista.
Texto de Ivan Pinheiro Machado no Correio do Povo, em abril de 1977, mas cada vez mais atual.
